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Perguntas sem respostas (ou não)

Elena Bandeira, psicóloga, mentora de carreira,

sócia e treinadora na Aprendência.

Insta elena_bande e aprendência.




A capacidade de analisar um contexto, obter novas percepções e diferentes interpretações dos fatos é uma das habilidades mais desejadas no mercado. A compreensão do todo facilita a tomada de decisões às quais líderes e outros profissionais são constantemente expostos. Fazer perguntas é muito importante nesse processo.


Hoje a pergunta é sobre o último episódio de violência no Carrefour diante do roubo de algumas caixas de leite realizado por um casal em uma das suas lojas aqui do Brasil. Por que uma corporação multinacional, de origem francesa, composta de algo em torno de 14 mil lojas de varejo ainda não desenvolveu um modo civilizado de lidar com essas situações? Por que eles trazem para si tarefas da responsabilidade das autoridades policiais?


Se houvesse um roubo por dia em cada loja, o Carrefour teria 14 mil roubos diários. Parece muito, isoladamente. Mas tudo é relativo. Então, para sabermos se é muito, a pergunta é: eles têm alguma estatística mostrando qual a proporção dessas perdas em relação ao faturamento e ao lucro?


Parece que os gestores do Carrefour não conhecem a lição dos bancos. Como eles lidam com as fraudes? Primeiro, seguem a lei. Pelo menos não há notícias de algum golpista do sistema financeiro apanhando dos seguranças. Os bancos fazem gestão de risco, concentram os esforços na prevenção e no combate aos riscos maiores, de valores altos, onde as perdas são significativas. Incorporam as perdas menores, repassam para os custos, não gastam energia nisso (certo, socializam os riscos, mas isso é outra história). Os gestores do Carrefour conhecem os conceitos de gestão de riscos e de controles internos?


O lucro gerado nos supermercados é atrativo para investidores. Isso se deduz pela expansão do setor supermercadista aqui na região, onde recentemente foram inaugurados diversos novos supermercados gigantes. Para salvar as proporções, era de se esperar mais notícias do gênero, relativas a outros mercados. Mas não. Será que nesses as surras aos pequenos ladrões não são filmadas ou a incidência realmente é menor do que no Carrefour?


Com muita frequência, as pessoas agredidas fisicamente ou verbalmente são negras. Terceiro milênio da humanidade após a era de Cristo. Tempos em que se descortinam as questões preconceituosas que envolvem as populações negras. Bater em qualquer pessoa é crime, em pessoas negras tem agravante. Simplesmente, elas são mais vulneráveis. O cenário do desenvolvimento e da evolução das vidas negras, especialmente no Brasil, é cruel. Pesquisas recentes realizadas pela consultoria Santo Caos denunciam o quanto a população negra ainda enfrenta os privilégios dos brancos a vida toda. Poucos têm acesso às melhores escolas. Nas faculdades, eles aparecem em quantidades ainda menores. Nas empresas, metade nunca foi promovido. E, pasmem, eles vivem menos anos do que os brancos, porque têm menos acesso também a boas condições de saúde e saneamento básico. Eles são mesmo uma ameaça ao Carrefour, como temos sido informados ultimamente, quando as cenas de violência são gravadas (imagine-se quantas não são)?


Hoje prefiro não usar imagem. Faltam muitos pontos nessa teia para compreendermos a conjuntura em medida mais certa. Só o que temos convicção, pelo que vemos na Aprendência, é de que não há maus líderes, nem maus seguranças. O que existe são líderes e equipes mal formadas. Garanto que indenizações custam muito mais do que treinamentos.

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