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E essa tal liberdade?

Falar sobre a liberdade é falar sobre ilusão. Uma doce ilusão.


Ao nascermos já nos é dado um mundo. Um mundo que pretende estar pronto. Definido. Construído. Já temos uma linguagem para aprender e nos relacionar com o mundo. Temos um país, uma cidade, um bairro. Um pacote cultural completo, que inclui o conjunto de princípios e de valores humanos que deverão guiar nossas vidas. São os trilhos invisíveis aos quais Clarice Lispector refere-se, na figura.


Esses trilhos tornam-se visíveis à medida em que causem algum incômodo, alguma dor, uma dificuldade qualquer. Nesses momentos surgem os questionaremos. É isso mesmo? Por que é assim? E então vem a vontade de seguir por novos trilhos. De construir novos caminhos. Respirar outros ares. Essa construção consome força e energia. Requer a escavação de túneis, a construção de pontes, o aterro de terrenos. Quando Clarice nasceu (1920) havia menos trajetos possíveis. Hoje nosso poder de escolha é maior e há diversas possibilidades. Assim como implode-se um prédio em segundos, também se promovem mudanças de vida, às vezes radicais, da noite para o dia. Não há certezas, não há modelos prontos. Os trilhos estão flexíveis.


Podemos seguir pelos trilhos invisíveis da ignorância, que, não raro, são mais confortáveis. Nascer, crescer, envelhecer e morrer. Passar pela vida como quem assiste a um filme, adotando o paradigma “deixa a vida me levar”. Ou podemos seguir atentos, observando, escolhendo, adotando comportamentos e assumindo as responsabilidades decorrentes. Falo de autorresponsabilidade. Falo de escolher o que comer, o que beber, e depois perceber os benefícios da nutrição ou sofrer com a dor no estômago.


A liberdade é relativa. E proporcional. Se quisermos mudar o mundo, somos quase nada livres. Se quisermos mudar como somos e nosso próprio entorno, nossa liberdade aumenta. Basta seguir uma orientação de dentro para fora, conscientes do que é essencial. Escolher os conteúdos dos nossos pensamentos, escolher as atividades que consumirão nossos corpos físicos a cada segundo de nossas vidas, escolher onde gastaremos nosso dinheiro, sem seguir apenas pelos trilhos pré-estabelecidos por outrem.


O que você tem escolhido para sua vida? Tem seguido por caminhos repetidos, trilhas afundadas na grama por outros, ou você está com a atenção plena, voltada para si e para o horizonte ao mesmo tempo, consciente da brevidade da vida? A liberdade não é consentida, precisa ser conquistada.



Elena Bandeira, Psicóloga, mentora de carreira, sócia da Aprendência Desenvolvimento Humano.

Insta: elena_bande e aprendência

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