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ENTREVISTA COM DR. DIEGO DÁVILA CHRISTOFF, MÉDICO EM ENCRUZILHADA DO SUL



Encruzilhada do Sul registrou o primeiro óbito pelo coronavírus. Existe muita preocupação na população. Para ajudar a entender o que está acontecendo, os jornais 19 de Julho e Sudeste formularam algumas questões ao médico Diego DÁvila Christoff. Colaborando com o isolamento, tão útil na prevenção do contágio, a entrevista foi feita por WhatsApp.

Dr. Diego, o sr. é pessoa conhecida em nossa cidade. Além da função de médico, exerce mandato de vereador. Então, dispensando maiores apresentações, poderia dizer que função da medicina exerce junto ao município, e onde exerce seu trabalho?

Sou funcionário público, médico concursado, responsável pelo ESF Paraíso, onde cumpro 44 horas semanais. Trabalho com uma equipe fantástica, manhã e tarde sempre no mesmo local. Também faço as ecografias de todas as gestantes do município já há 17 anos.

Estamos em meio a epidemia do coronavírus, e nossa cidade está preocupada com o fato de ter confirmado casos da doença e inclusive registrado uma morte. A fim de tentar esclarecer e orientar os leitores, gostaríamos de formular algumas perguntas. a primeira delas, qual a diferença entre coronavirus e covid-19?

Como o coronavirus é um vírus conhecido ha muito tempo, o covid-19 é o nome que se deu a esta mutação do próprio coronavirus. O covid-19 criou capacidade de atingir a nós do jeito que vemos. Mas, na prática, são a mesma coisa.

Outros vírus, tipo as gripes aviária e suína, infectaram muitas pessoas, e muitas morreram. Por que precisamos temer tanto o coronavirus? Todos os vírus mutantes nos pegam sem anticorpos suficientes devido ao nosso organismo não ter entrado em contato com eles nunca em nossa existência. Uns são mais letais mas com menos facilidade de contagio, outros podem ser mais contagiantes, mas raramente matam. O COVID19 parece ser um misto destas qualidades, alarmante portanto. O que o sr. quer dizer é que o coronavírus é perigoso porque tem facilidade de contagio e é muito letal? Qual a melhor maneira de nos protegermos? Ele penetra em nosso organismo pelas vias aéreas (boca e nariz, principalmente) e também pela conjuntiva (olhos). Lavar as mãos frequentemente e usar máscara já é um eficiente modo de minimizar as chances de contágio. Fundamental mesmo é fugir de espaços fechados como viagens de ônibus, recepção de bancos, supermercados e principalmente recepções de unidades de saúde e hospitais (nestes últimos, embora arejados, se presume que possa haver alguém infectado). Evitar aglomerações. Manter distância das pessoas.

Aqui em Encruzilhada, temos três casos confirmados da doença, e infelizmente uma senhora faleceu em virtude do vírus. Isso significa que o vírus está circulando na cidade? Infelizmente a doença, como uma pandemia, tem caráter geral e não haveria de desviar de nossa cidade. Objetivamente respondendo a pergunta, significa que já estaria circulando na cidade ha cerca de 10 dias, no mínimo. Afinal, desde o contágio a pessoa em média manifesta sintomas entre 5 e 14 dias. Assim, até o óbito, é uma questão matemática. Existem estudos (OMS) informando que em cada 100 pessoas contaminadas com o vírus, 85 não apresentam sintoma nenhum, 15 ficam levemente doentes e 5 precisam ser hospitalizadas. As pessoas que não apresentam sintomas também podem transmitir a doença? Em média, para quantas pessoas um contaminado pode transmitir o vírus? Embora haja controvérsias a serem comprovadas, a OMS (Organização Mundial da Saúde) ainda reconhece que o vírus pode ser transmitido pelas pessoas infectadas que não apresentem sintoma algum. Em media, segundo a OMS, se aceita que uma pessoa contaminada possa contaminar outras duas. Do meu ponto de vista, contamina quantas estiver exposta quando enferma. Questão de contato. Então temos a possibilidade de ter pessoas sem sintomas e portando virus na nossa cidade. E que podem estar, sem saber, contaminando outras. Sabemos que evitar contato é importante, e que ficar em casa é a melhor maneira de evitar contato. Mas também sabemos que os idosos correm mais perigo. Dentro desse quadro, qual tua sugestão para proteger os mais velhos? Isolamento o mais radical possível. Os números quanto a recuperação de idosos não são nada encorajadores. Em alguns países estudados chegam a 10% em mortalidade, comparando ao jovem, que costuma ser bem menor de 1%. Algumas atitudes positivas têm sido tomadas, como os postos de saúde liberando as receitas dos remédios dos idosos e as farmácias aceitando receitas controladas pelo whatsapp, o hospital fazendo triagem antes de entrar na emergência, o município em breve inaugurando o antigo plantão para atendimento exclusivo para pacientes com síndrome gripal, está havendo realmente uma readaptação importante para tentar frear a velocidade de transmissão do vírus, bem como sua incidência.

A televisão nos explica algumas coisas. Por exemplo, o fato de que o paciente, quando vai para o respirador artificial, precisa ficar muito tempo. Daí a se concluir que precisaremos de poucos casos graves para esgotar a capacidade de nosso hospital nem é preciso ter muita imaginação. Isso é muito preocupante. Mas a televisão também mostra estudos de remédios que podem resolver o problema. A cloroquina é o exemplo mais comentado. Podemos acreditar que a solução está a caminho? Peço que assistam todos os canais de televisão, mas que na hora de acreditar em algo, utilizem fontes confiáveis. Imagina (e aqui Dr. Diego nos traz um exemplo bem humorado) 5 pessoas com diarreia numa casa com só 1 banheiro. Esgota a capacidade do sistema! Mas ter lugar para poder respirar é muito diferente. É vida ou morte. A gente não quer perder nenhuma vida humana. E falarmos da hidroxicloroquina, que é a menos tóxica. Infelizmente, nada esta comprovado pela ciência. E mais, como um remédio antigo, já usado para outras moléstias, reumatológicas principalmente, sabemos que tem efeitos adversos, nocivos à saúde das pessoas. Por isso se usa em casos graves, os médicos avaliam sempre os riscos e os benefícios dos tratamentos... nada impede (e torço muito por isso) que este ou outros medicamentos em poucos dias possam se tornar uma alternativa confiável e cientificamente comprovada. Tudo avança e muda muito rápido.

Então estamos na seguinte situação. Coronavírus é perigoso, contagiante, e já está em Encruzilhada. Não temos um remédio que garanta cura aos doentes. Precisamos nos abrigar, proteger os idosos porque são os mais vulneráveis. Um problema que se aproxima é o da economia. Desemprego, falta de dinheiro e inclusive a possibilidade de muitas famílias terem dificuldades em conseguir os alimentos necessários para a vida. Como cidadão, o que o senhor pensa? Qual seria o procedimento aconselhável as pessoas em geral? E os órgão públicos?

Infelizmente (ou felizmente) nossa geração não teve experiência alguma com guerra. E ainda muitos estão pensando em não perder financeiramente e esquecendo um pouco da vida. Mas uma guerra destrói tudo, às vezes. Estamos sendo atacados por um vírus e não por um país inimigo, mas de certa forma estamos em guerra. Como na gripe espanhola (meu avô materno perdeu a mãe ainda quando nenê para a gripe espanhola em 1919, a última pandemia parecida com esta atual), nosso comportamento deve ser: resistir, sobreviver e nos recuperarmos. Entendo que esse seja o nosso único caminho! As pessoas em geral, precisam se ajudar. Talvez as pessoas se reciclem e mudem alguns de seus paradigmas pétreos, e se atualizem. A pandemia um dia vai passar e teremos que nos reerguer. O país, o estado e o município existem para proteger o cidadão. Então, basicamente, é que precisam fazer com toda a inteligência possível.

Teoricamente estamos na 3.5 semana de uma pandemia que durará cerca de 14-15 semanas para o nosso país. Com a estimativa de cerca de 60 infectados no município hoje (3 confirmados oficialmente que, devido a estarem em situação grave foram testados com o exame), resta a comunidade "quadruplicar" a atenção nos cuidados individuais, ficar atenta às informações da mídia oficial e principalmente da Secretaria Municipal de Saúde que é o órgão mais bem preparado para conduzir-nos nestes difíceis tempos. Mas nada adianta sem a conscientização de cada um dos cidadãos. NOSSO AMANHÃ DEPENDE DO NOSSO COMPORTAMENTO DE HOJE COMO CIDADÃO, E O COMPORTAMENTO GERAL COMO ESTÁ HOJE NÃO ME PARECE TÃO PROMISSOR ASSIM. POR FAVOR, LEVEMOS MAIS A SÉRIO.


Queria encerrar agradecendo ao secretário de Saúde Pedro Freitas e ao Diretor do hospital Santa Barbara Sr Celso Teixeira pelo empenho e cuidados demonstrados ante toda a esta situação e também a todos os colegas que embora em perigo de saúde iminente, estão dando o seu máximo sem recuar.


Colaboração Sergio Schroeder


 

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